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Contra a OBA 2012

Contra a OBA 2012

OBA 2012: a ciência como instrumento de exclusão cultural

A minha maior decepção em Astronomia, já em 2012, foi a tal da OBA, Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica. Mais uma vez mostrou-me um Brasil de cultura excludente estranhamente apoiada pelo governo.

Ao indicar a Escola Estadual Francisco Menezes Filho, de Belo Horizonte, para participar da tal OBA 2012, não tinha ideia dos aborrecimentos que iria passar. Trata-se de uma escola de ensino médio onde fui de sala em sala divulgando a tal da OBA 2012, nos três turnos (manhã, tarde e noite). Me chamou a atenção um aluno do primeiro ano do ensino médio, cujas iniciais J. S. G. R., de 15 anos, que demostrou súbito interesse em participar. Durante mais de um mês ele se preparou e estudou astronomia para caprichar na prova. Mas no dia 11 de maio, a prova foi mais do que um balde de água fria. "Nunca mais participo disso", desabafou o aluno, decepcionado. Mas o que poderia ter provocado tal frustração?


clique aqui para baixar A PROVA

Ao examinar a prova, do Nível 4, para alunos de QUALQUER ano do ensino médio, vi que haviam quatro questões que ficaram em branco, no total de dez. Ou seja, o aluno só disputou 60% da prova. Porque? As questões abordavam, em matemática, a aplicação do teorema de Tales na semelhança de triângulos, o conceito de Pi e radiano na trigonometria da circunferência e assuntos de Física que, realmente, um aluno, recém chegado do ensino fundamental, não poderia fazer. E, surpreendentemente, NÃO ERAM QUESTÕES DE ASTRONOMIA mas de Matemática e Física com temas sobre astronomia.

Em livro adotado pela escola estadual, Matemática, para o Ensino Médio, a aplicação do teorema de Tales na semelhança de triangulos aparece como conteúdo a ser dado no final do primeiro ano e as definições de Pi e radiano da trigonometria na Circunferência, no início do segundo ano do ensino médio. Realmente não tinha como um aluno do primeiro ano fazer tais questões.

CAPATALES E PI

Em livro adotado, para escola pública em Mnas Gerais: Teorema de Tales (pág. 114) e as definiçoes de Pi e radianos (pág. 125) pertencem ao ensino médio.

Nas questões onde a Física tomou o lugar da astronomia, a relação das órbitas de estrelas duplas na definição das leis de kepler só estariam ao alcance de um dedicado aluno do terceiro ano. Foi uma questão para vestibular. Mas o que diz, no regulamento da OBA, sobre o objetivo da prova?

Discurso oficial da OBA (incompatível com a prática em 2012):

 

"A OBA tem por objetivos fomentar o interesse dos jovens pela Astronomia e pela Astronáutica e ciências afins, promover a difusão dos conhecimentos básicos de uma forma lúdica e cooperativa, mobilizando num mutirão nacional, além dos próprios alunos, seus professores, coordenadores pedagógicos, diretores, pais e escolas..."

 

E não é isso que se percebe ao ler atentamente a prova. Trata-se muito mais de algo punitivo e excludente do que alguma coisa que vai estimular a pessoa a querer crescer pois o aluno seria avaliado por algo que não aprendera. Então surge um novo problema: como dar nota a um aluno que não teve chance de aprender a lição?

tales

Aplicação do teorema de Tales na semelhança de triângulos: para o ensino médio

Um outro aspecto curioso é que, em muitos dos cabeçalhos das questões, haviam resumidas explicações sobre o que seria Pi, radiano ou definições de Watts ou Joules como se o aluno fosse, no ato da prova, assimilar um conteúdo que exige tempo e prática para ser assimilado. Mas de onde vem um projeto pedagógico tão absurdo? Assim sendo, pra que seriam necessários os pŕofessores e escolas? É o absurdo da pseudo pedagogia à brasileira.

Ainda, do discurso do regulamento da OBA:

"As provas serão compatíveis com os conteúdos abordados pela maioria dos livros didáticos do ensino fundamental e médio."

CAPA

Ao ser indagado, o coordenador da OBA argumentou que todos os conteúdos de matemática são do ensino fundamental e não tinha culpa se os alunos do terceiro ano estariam mais preparados que os do primeiro ano. Mais preparados? Como alguém pode estar mais preparado sem ter acesso ao conteúdo? E o livro de matemática do ensino médio adotado pela escola, indicação do MEC, estaria errado? Estaria a OBA em desacordo com o MEC?

Pi 01

As definições de Pi e radianos: conteúdo de trigonometria na circunferência para o ensino médio

pi 02

Como avaliar um aluno recém saído do ensino fundamental com conteúdos que devem ser assimilados durante o ensino médio?


QUEM APOIA A OBA?

Observatório Nacional, ITA, CNPQ, CTA, Sociedade Astronômica Brasileira - SAB, Agência Espacial Brasileira - AEB, dentre outras. São todos órgãos governamentais que, com o dinheiro do contribuinte, patrocinam esta prática excludente da OBA. Apenas um estado falido de cultura apoiaria algo assim.


CONCLUSÕES

Essa prova de 2012, do nível 4, deveria ser totalmente anulada se for para cumprir o regulamento atual. O conceito pedagógico está totalmente equivocado sendo comparável a um tipo de vestibular para Matemática e Física, incompatível com a proposta da prova. O que deveria estimular o candidato, na realidade, se move em direção contrária. Sugiro ainda uma melhor fiscalização dos órgãos governamentais na confecção da prova para evitar futuros problemas e inconvenientes.

Tudo isso mostra um país onde a demagogia de um estado falido de valores sociais transborda em opressão ao cidadão em uma cultura excludente, injusta e perversa. Somos, realmente, um povo amordaçado e oprimido, sufocado por séculos de atraso colonial. Talvez por isso somos uma nação tão violenta pois um povo esmagado só pode reagir dessa forma, matando uns aos outros, tingindo de vermelho sangue as favelas, o Senado, o Morumbi e o Leblon. A violência se mostra como a única janela para se igualar as pessoas no Brasil.

Penso que a proposta para um país que busca justiça social deveria caminhar na direção da inclusão como forma de acesso ao crescimento de seu povo. E lamento que, de onde deveriam vir exemplos de incentivo à cidadania, temos essa visão antiga e desagregadora, onde a cultura e o saber ficam restritos à poucas pessoas, afunilando e elitizando o conhecimento. Essa exclusão está intimamente ligada ao estado de violência em que vivemos.

Fica então aqui minha última pergunta: queremos ter a violência como nosso maior valor reconhecidamente democrático?

Atenciosmente,

João Marcos

Ps.: para quem interessar postar um comentário à esse artigo, enviar mensagem via CONTATOS.


Comentários postados:

Ingrid Schmitz de Alencar